A Câmara Municipal de São Sebastião realizou, na manhã desta quinta-feira (24), o evento “Abril Azul na Câmara – Diálogo pelo Autismo”, como parte da programação do mês de conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Com falas emocionadas, denúncias, propostas e compromissos públicos, a iniciativa reforçou o papel do Legislativo como espaço de escuta ativa e articulação social.

A mesa de abertura reuniu representantes das secretarias municipais de Educação, Saúde e Pessoa com Deficiência, além da OAB, entidades da sociedade civil e vereadores. O encontro foi conduzido pelo diretor de Comunicação da Casa, Rafael Rodrigues, e transmitido ao vivo pelos canais oficiais.

Presidente Edgar Celestino: “Capacitar a sociedade é tão importante quanto legislar”

Na abertura, o presidente da Câmara, vereador Edgar Celestino, reafirmou o compromisso institucional com a inclusão. “Capacitar os servidores é importante, mas capacitar a sociedade também é. Comerciantes, escolas, mercados precisam estar preparados para acolher o autista. A felicidade de uma mãe em ver o filho comer sozinho já é, por si, uma vitória. Precisamos olhar para os detalhes, e não apenas para o macro.”

Danúbia Moraes: “Sem rede de apoio, eu não estaria aqui hoje”

Representando a Integra Associação de Apoio à Criança Autista, a advogada e mãe atípica Danúbia Moraes defendeu a criação de três centros especializados em TEA no município, um em cada região: Costa Norte, região central e Costa Sul. “Cada território tem uma realidade. O município precisa de centros próprios e integrados.”

Danúbia também criticou a ausência de planos terapêuticos individualizados. “Não adianta a criança fazer terapia sem metas, sem gráficos, sem plano de ensino. Toda criança autista pode aprender, desde que o educador saiba ensinar.”

Leonardo Salomão: “A educação inclusiva precisa deixar de ser discurso”

O filósofo e professor Leonardo Duarte Salomão, que está no espectro autista, compartilhou sua trajetória e destacou o valor da escuta. “Muitas vezes, as pessoas com deficiência falam e não são escutadas. Hoje percebo que há pessoas dispostas a ouvir. Isso nos fortalece.”

Débora Trindade: “Quem vai cuidar do meu filho quando eu não estiver mais aqui?”

A presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com TEA da OAB de São Sebastião, Dra. Débora Trindade Ferreira, defendeu a criação de moradias assistidas, com atenção integral e preparação para o futuro das pessoas com autismo severo. “Meu filho é nível 3 de suporte, não verbal. Precisamos falar sobre o que virá depois de nós.”

Débora também propôs capacitação das forças de segurança. “Capacitar a Polícia Municipal e a Polícia Militar para identificar uma crise autista pode salvar vidas. E quando falo que uma crise pode ser confundida com desacato, não estou teorizando. Estou relatando.”

Secretarias destacam integração e compromisso intersetorial

Representando a Secretaria de Educação, a fonoaudióloga Margarete Alves Pinheiro reforçou a atuação da equipe multidisciplinar da rede municipal. “Temos psicólogos, assistente social e pedagoga, mas sabemos que ainda é pouco. Vamos ampliar a formação continuada dos professores e a capacitação dos apoios escolares.”

A secretária adjunta de Saúde, Mara Abreu, anunciou um novo cronograma de atendimento para todas as faixas etárias. “Estamos desenvolvendo um acolhimento que contemple crianças, adolescentes, adultos e famílias. A saúde não pode trabalhar sozinha. Atuamos em conjunto com as secretarias de Educação, Esportes e Assistência Social.”

Já a secretária da Pessoa com Deficiência e do Idoso, Juliana Coelho, destacou o papel da sociedade civil na consolidação das políticas públicas. “A inclusão não é só papel do governo. É da família, da escola, do comércio, da igreja, da vizinhança. Estamos somando forças com as associações e precisamos da sociedade como quarto pilar da política pública.”

Vereadores reforçam apoio e propõem ações legislativas

A vereadora Henriana Lacerda relembrou sua experiência na advocacia previdenciária e cobrou dados concretos para formulação de políticas públicas. “Em março protocolei requerimentos pedindo à Educação e à Saúde um diagnóstico real da situação. Precisamos saber quantos são, onde estão e o que precisam. Só assim faremos políticas públicas efetivas.”

A vereadora Enfermeira Maria Ângela defendeu o cuidado com quem cuida. “Vocês são protetoras, defensoras e também precisam de acolhimento, de proteção. Não é só abrir portas — é dar suporte. E essa Casa estará sempre com vocês.”

Já o vereador Professor Cardim reforçou o compromisso do Legislativo com as mães atípicas. “Vocês foram escolhidas por Deus. Essa Casa de Leis, com seus 12 vereadores, estará sempre ao lado de vocês. Que as ações não fiquem só no discurso, mas avancem na prática.”

Evento terá continuidade no calendário legislativo

A programação foi encerrada com três palestras na Tribuna Professor Doutor José Machado Rosa, que abordaram temas como educação inclusiva, diagnóstico e tratamento, e políticas públicas para o TEA. Ao final, o presidente da Câmara anunciou que a iniciativa será incorporada ao calendário permanente da Casa.

“Seguiremos com essa pauta. Durante os próximos dois anos da minha presidência, este plenário estará aberto ao autismo, à inclusão e à escuta ativa”, finalizou Edgar Celestino.

Fotos: Luciano Vieira | CMSS

Fonte:Redação